sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Alguns acordes menores





Acordes menores elevam meu espírito.
Meu corpo na poltrona
e eu no infinito.

Descendo as cataratas num barril,
talvez menos melancólico
em manhãs de abril.

Quisera fosse sempre assim.

Enxurrada violenta
de lágrimas inúteis.
Inúteis passados refilmados.
Eu quis reter a sensação,
mas ela obteve o habeas corpus
antes de mim.
Vivo morrendo
em quartos secretos,
me esforçando para dormir
enquanto os versos se derramam
como faíscas no escuro.

Carnavais vão e vêm,
observações no calendário.
Pinguins de geladeira
– é rir para não chocar.
Tantos subterfúgios
nestes divãs elétricos
– derretimento de ideais –
e polimentos emocionais
dietéticos.
Benzemos nossas velas;
o sangue escorre das aquarelas:
nada corre para meus braços.
Nada ocupa lugar no espaço.

Acordes menores.
Acordes menores.
Acordes...

Numa cidade abandonada,
os meninos assustados
fazem coro à minha sina.
Como posso ser mais um
quando não me ouvem
e não se fazem ouvir?
Acordes de discórdia.

(Sempre que posso me desvio dos relâmpagos;
na maratona das tartarugas dopadas
tenho esperança de vencer.
Jogo com honestidade,
mas retardaria o passo
para não deixar você muito para trás.
Eu mergulharia no abismo por você,
reescreveria minha história por você,
até amaria a mim mesmo –
logo não é minha esta corrente
em meus pés:
meus instintos engessados
levam tempo para emendar.
Mas um dia darei caça
ao ogro que engoliu a chave
de minha motivação.)

Ideia concreta,
realidade mais digna de ser sonhada.
A localidade do sonho
mais digno de ser realizado.
Onde?...

Ruelas. Ruínas de futuras civilizações.
Retratos de uma paixão coletiva
há muito esquecida.
Mal sabemos o que corre esguio
entre as brumas acesas
pelos pactos subliminares,
nossa hora de maior assombro
– suburbano.

Acorde...

Choro sobre a sua lápide,
sulcando num papel acetinado
um novo script plagiado.
Sinto o rangido da toada hipocondríaca
enaltecendo a motivação cantante.
Nada corre para meus braços.

Choro entre as garças em formação,
planando no alísio,
contornando torres ruídas,
varzeando solidões.
Cavalgo contradições de textos sacros
como que a sancionar sutis contracepções.

Nada corre para meus braços.







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