sexta-feira, 28 de junho de 2013

Corredor





Tensão.

À noite ouço cigarras e à tarde gafanhotos;
sapos, marimbondos, moscas que não querem aparecer.
Nenhum deles deveria aparecer agora
para me tirar a atenção.
Atenção, atenção / presto atenção
à porta, ao corredor, à parede sem fim;
eterna através dos minutos
do relógio que vejo no lugar dos insetos verdes,
dos gafanhotos, répteis escamados, um louva-a-deus
que some ao ver ou sentir a luz da manhã.

Preciso ver o oculto por aquela porta sombria,
mergulhada no âmago do lúgubre;
agonia vulcânica, escuridão da minha mente
fixa na maçaneta, prateada
como os pássaros blindados, no anil
subitamente avermelhado em tempestade,
antes de chegar a noite
que está longe daqui... e que continue por lá!
pois agora me apeguei ao calor
que o corredor terminado com a porta
sempre me traz, rival do sol ausente.

Penso sentir os insetos verdes aqui.
Vermes suspiram na corda, ao me contemplar
a contemplar a porta no fim do corredor (eternal).
E não consigo me lembrar por onde vim,
como cheguei a este universo ora relampejante,
ora silencioso como as cigarras do futuro.
Só sei que vim correndo pelos corredores
e as cordas só existem na minha cabeça...

...voltada para a porta.
Só eu posso saber o que lá atrás se esconde,
entretanto não pude ainda me descobrir:
a escultura de cerâmica que quebrei me dirá o caminho
entre o céu e o inferno terrestres.

Minha vida inteira
é uma fração do invisível.
Nada mais importa,
não me importa o que você disser;
por mais que uma pessoa pense, reflita sobre mim,
não me verá mas só a porta, onde os pesadelos,
todos os pesadelos, acabam para dar início
aos sonhos de portas abertas... abertas... abertas...
e lá dentro trevas.








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