quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Adeus





(Ler pausadamente, pensativamente.)


Uma sirene de ambulância
ecoa na distância.
Quem me garante que não estejam
levando você?
Quem me garante
que não levam a mim?
O mundo escurece
quando penso em você;
em volta de meus ouvidos
dançam as palavras
que nunca pensei em ouvir.
O que chamamos morte,
o que denominamos vida
são meras palavras num dia de sol.
Quando não reconhecemos os cenários,
nossos sentidos
ganham um novo sentido funcional.
Eu saio lentamente,
não sem antes fechar a porta
cuidadosamente.
Mergulho em mim mesmo,
antes que a lembrança me sufoque.
Penso sentir o gosto.
Penso sentir o toque.

Só agora eu vejo.
Só agora eu vejo.

O que chamamos certo
esteve errado desde o princípio.
O princípio das dores redentoras
de um parto celestial.

Deixem-me nascer em paz...

Só agora eu vejo.
Só agora eu vejo.

Dardos, canoas, palanques,
rodas, mordaças, enxertos,
óculos, baldes, canetas, advérbios, mordidas,
cartazes, cenouras, cerejas, flores, pistolas:
o que não nos compromete?
E o que denominamos país?
Rostos contritos chorando
e rindo convulsivamente.
Mãos que afagam e golpeiam.
Contas bancárias mal usufruídas.
Automóveis...
Latas são objeto de orgulho.
Casas – palcos de guerras milenares.
Igrejas,
mistérios criados pelo homem
para fugir dos mistérios da Natureza.

Mas neste momento supremo
deixo-me levar ao meu destino.
Uma cápsula espacial perdida
entre imensas bolhas
de matéria etérea.

Adeus,
adeus,
adeus,
até logo, bom fim de semana.

Nos reencontraremos no dia da ressurreição,
nos veremos no Tártaro
ou nos campos Elíseos,
ou no imenso vazio
que separa as galáxias,
em algum ponto do universo
onde tudo é absoluto...

Adeus,
adeus,
adeus,
até logo, bom fim de semana.

Adeus,
adeus,
adeus,
boa sorte, eu te amo,
bom fim de semana.







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