terça-feira, 22 de agosto de 2017

Aspirina®





Além do meu corpo,
além da minha casa,
além da minha rua,
por sobre os telhados e quintais
e carros e pedestres,
além das fronteiras e rodovias,
por sobre as montanhas do horizonte
e entre os pássaros do céu,
na direção do sol
e à sombra das nuvens,
acima das cidades e das fazendas,
por sobre lagoas e lagunas
e numa panorâmica sobre o verde,
ainda além do vento
e dos pensamentos mais voláteis,
mais alto que as mais altas nuvens
e se misturando ao ozônio,
contrário à rotação do planeta,
rompendo o campo gravitacional
e dando adeus aos azuis,
dançando sobre a radiação cósmica
e sobrevoando o lado iluminado da lua
(riscando o disco tão bem definido),
continuando então para longe da estrela amiga
até cruzar os espaços inumanos
e mergulhar nos anos-luz e quiloparsecs,
sob os espectros multicores
de cada ponto de luz em sua calma rota,
rompendo o limite do tempo
e dos terrestres conceitos,
embebedando-se em cálculos infinitos
de amor supracorpóreo,
além das massas e potências
e conglomerados de matéria e energia,
superando toda metafísica
e possibilidades do pensamento
a ponto de se estar sendo tudo o que se puder ser
ou o que não se puder,
posso agora finalmente adquirir,
ao fim deste formidável salto,
justamente aqui na matriz da matriz
dos universos imagináveis,
o justo discernimento
necessário para direcionar ao caos
o alcance atemporal
da suprema Panaceia Cósmica,
para que possa esta conceder ao temporário o dom
de refletir do absoluto
o gozo e a paz legítimos
que o rascunho de cultura em nós enraizado
nunca pôde prover
aos infelizes que em prantos faliram,
em abandono a vagar
por entre terras inóspitas
de amores contidos.







Nenhum comentário:

Postar um comentário