terça-feira, 22 de agosto de 2017

O sono do feto





Um gosto de sangue...
Influxo hormonal... Esboço de paz...
Um sono sem destino... Pulsa a traição.
Pulsa todo um universo de traição.

Microcósmica partícula abandonada ao macrocosmo
festivamente composto por n elementos
os quais, de sorrateiro,
a induzem ao despertar da paz orgânica,
à ciência da solidão,
à alquimia das visões,
ao jogo da transformação,
num apocalipse amniótico
de retrógrada órbita, de duvidosa prospecção,
em alterada formação... Gosto de sangue.
Obstinada agregação de proteínas-base.
Inconsciência. Inconsistência.
Longínquos espirais... Luz.

Embrionário claustro
a aguardar da liberdade um arremedo,
agorafóbica insegurança.
Luz.
Eletricidade.
Raios.
Fluxo.

As cifras das medidas.
Os códigos da aparelhagem.
Súbita revelação.
Cabeça, tronco e membros...

Em sutis interferências,
intervém nos prazeres fetais
uma gama de singulares substâncias,
um torvelinho de lembranças...
As prateleiras vazias de um jovem córtex
esperam pela reluzente mercadoria que as ocupará.
Hormônios. Luz branca.

Ainda no grande útero do condicionamento social,
é cada unidade pensante
um aborto da ciência.

Gosto de sangue.








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