sexta-feira, 23 de março de 2018

À procura do concebível





Os prédios despontam tristonhos
entre as névoas da manhã fria.
O céu, indefinido de matizes poluentes,
ausente está de transcendências e promessas
e aquela que fiz outrora a você, amiga,
desta atmosfera não recebe o eco.

Do labirinto urbano, a circulação xenófoba
de vultos furtivos
não nos conhece, nem o poderá:
quem poderia pô-los cientes
do desconhecido que são para si mesmos?

E se eu me transportasse a outras paisagens,
o que veria, além do que conheço ou concebo?
A mesma aquiescência, a mesma violência
rompendo ambas a liga tênue
que tecemos sem caução, nem são planejamento,
na esperança de unir sanidade e desejo?

Choupanas de camponeses distantes 
a expansão azul das gaivotas 
monges andando em círculo 
um mundo incompleto redundando em erro,
pois ainda não lhe foi sem mistério revelada
a definitiva concepção do Bem.

A mesma dor,
o mesmo pranto,
a mesma prece.
E ainda fecha-se os olhos e dorme-se.

(Pegue seu martelo, erga sua foice,
carregue sua cruz.
Abra o terreno, construa e plante.
E, por mais que seja obrigado a cavar
as  trincheiras do temporário,
jamais esqueça do hábito salutar
de vez por outra olhar para o céu.)








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