sábado, 10 de março de 2018

FEBEM





Muito obrigado, Senhor,
por existir o inferno.
Obrigado pela oportunidade que temos
de descansar em paz,
longe da indiferença carbonizada
dos tribunais.
Paus, punhos e lâminas
não conseguiram amolecer meu coração,
nem tornar mais dócil
a minha carne.
A Justiça me fatiou dia após dia.
A Justiça tem um rosto enrugado
de convicção.
A Justiça se alimenta de sangue e dor,
sem ter sido convidada
para o repasto.

Já perdoei meus algozes.
Dos algozes do mundo,
fui do tipo trivial/padrão.
Mereço até ser chamado de Monstro.
Eu era um instrumento
da Casa dos Horrores,
mas dela já me libertei.
Colho agora tão-somente minha própria iniquidade,
a montanha de crueldades
que ela me induziu a cometer.

Muito obrigado, Senhor,
pela oportunidade que tive
de deixar de ser um verme;
obrigado sobretudo por me permitir
que eu esteja ciente
da rastejante condição humana.








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