segunda-feira, 26 de março de 2018

O Alheio






Sobre a grama havia uma bolinha,
lisinha que só vendo, tremulando ao vento.
A mãozinha do gnominho arregalado
alcançava após dois saltos o pequeno chamariz.
Precisava realmente daquilo,
sabia-o no âmago de sua sábia alma,
sabia dos mundos o volvente motor
e das eras o insistente condutor.

Eis que então, do muro, o alegrinho,
o loirinho, seu vizinho,
verde duendezinho intrigante,
ostenta por um instante o artefato singular
intitulado Alheio Encantamento Distante.
Uma boca pende, dois olhos brilham,
um jato mental invisível preenche a distância
e se encurta inexoravelmente.
E tem início a cena de cor e furor;
o universo pulula e estremece
desde sempre e para sempre...
e em breve o Encantamento
jaz ignorado e quebrado
contra as pedras ásperas.

Duas pequenas criaturas
ainda em busca de um criador,
ainda em busca de um outro furor,
ainda caindo e levantado e sacudindo o pó
do absoluto decomposto.

Não isolado momento.
Motores e condutores
novamente ignorados e abandonados.
O abandono de si mesmo
como triste final
de um conto alegremente iniciado.








Nenhum comentário:

Postar um comentário