domingo, 20 de agosto de 2017

Abrigo antinuclear





Eu havia dito,
eu havia falado tantas vezes
e ninguém me dera atenção.
Agora resta-nos a tétrica ressonância
de um trovão devastador...
o sinistro tremular das paredes,
uma atordoante cintilância
como triste e distante lembrança
da extinta civilização.

É o fim.
Apenas nós dois no mundo
e as baratas.
É o fim.

ABRACE-ME, PELO AMOR DE DEUS!
Abrace-me, se ainda tiver força para isso!...
Debaixo desta luz maquinal e opressiva,
pontuada por intervalos de escuridão,
eu gostaria de reconhecer você
como um símbolo
de tudo que nunca tive
e jamais terei...
Não, não tire de mim a fantasia
de que posso encontrar
dentro de você o céu azul
que, me contaram, teria existido
num tempo distante;
dentro de você,
o paraíso perdido das antigas lendas...

Não, não se desmanche em meus braços,
não desapareça entre a confusão dos sentidos,
continue real
minha última e única fantasia...

É o fim.
Apenas eu...
e as baratas.







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