sábado, 31 de março de 2018

Cena 5 Tomada 8





Fale. Não importa, não adianta, não vou prestar atenção. Talvez a culpa seja das suas sobrancelhas... ou eu que não consigo desligar o meu sensor de detalhes. Bem, agora você já falou. E certamente espera uma opinião. E eu não posso dizer que não lembro do que foi dito. Estou preso em mim mesmo. Não sei se isso é bom ou ruim.

Respondo algo insípido, neutro, banal; no entanto tento transmitir segurança em minhas expressões, gestos, tom de voz...

Acho que deu certo.

Ou não: você parece ter levado muito a sério a bobagem que falei. Não sei se isso é...

“Vamos para um lugar mais desinibidor” é a solução aparente. Seremos transparentes?

“‘Isso’ é um lugar desinibidor?” Não importa agora; vamos retornar ao assunto (algum de nós está bem confuso). Fale.

Fale. Não importa, não adianta, não vou prestar atenção: há uma coceira na minha sobrancelha. Há um brilho singular no seu olho... e ele (o brilho ou/e o olho) parece me dizer mais coisas que todas as gaguejadas palavras... diga!

(silêncio)

(totalidade)

(intensidade)

(sem comentários)

Não sei o que pensar (ele vai embora devagar, meio trôpego). Impressão de que estão nos filmando. Personagens de um livro em branco?








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