sábado, 31 de março de 2018

Narrativa sem tempo





       Um jogral, na beira de um riacho,
abandona a lira na relva
       e respira os raios do sol...
e a bruma residual canta
a álgebra ilógica do sentimento.
       O dia decora a fragilidade
diante da carência de um abrigo;
       nossos abrigos cristalinos nos aguardam
no final do caminho sempre verde.
       A revoada de flamingos
matiza a idealizada ausência de aflições
que atmosferiza os desejos terrenos.
       Trepida-se e convulsiona-se aqui
       o que anseia pelo frenesi criativo;
o que se conteve
       das volúveis intenções humanas,
ainda tão fora de seu tempo...
       Tão impulsivas na aquisição da beleza...
Enquanto a beleza flui através de nós
       e reflui no abraço solidário das criaturas.
       Buscamos aqueles que sabem apreciar
todas as atmosferas do(s) mundo(s), sorver
       o relevo cambiante,
expelir de si a nulidade empedernida
que ainda adere às suas memórias
       escoadas.

       E o coletivamente memorizado
vem numa só torrente, preenchendo-nos
de prazeres narrativos. A fonte
       sempre jorrante, sempre brilhante
de magias informais.
       Somos mestres, somos aprendizes.
       Trombetas e clarins.

       E o jogral cinge-se de flores azuis.








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