domingo, 11 de março de 2018

Para a criança que mudará o mundo






Fornalhas de suplício pedagógico.
Atrocidades na clausura nunca explicada.
Pelas ruas a lembrança do constrangimento.
Nos olhos mais um poema abortado.

O céu condescendente contempla os vapores.
Paredes rachadas de condomínios obtusos.
Os condôminos sulcados de tiranas mágoas.
Carcomidos jornais empilhados.

As demais crianças com suas novas brincadeiras
Não conseguem levar embora a sentença
E apartados jazem os complementares,
Obrigados a escolher seu melhor féretro.

Soubessem os altivos dos murmúrios destes membros!
O peso de deixar-se fechar, o medo da abertura rósea,
O pasmar da fortaleza inutilizada
Nas brumas e nos sóis do esclarecimento civil!

Serás amigo das jovens feridas, caro eu,
Tu assim perdido, pedregoso sobre as ondas,
Fontes escassas de sentido e valor
Em meio ao novo velho ditado

Dos tempos engaiolados –
Vês o canto? Ouvirias teu espanto?
Frutificaria acaso tua derrota admitida?
Calariam para sempre os impositores de sensações?

Cada passo da criança que espera
Um mundo novo espera, e grata de fato,
E então o vazio dos olhos do atormentador
Pinta e borda o colossal retorno ao lar.

O lar dos ânimos reprimidos,
O altar dos impulsos arrefecidos
No silêncio compactuado
Cortado pelos comentários corrosivos.

Possa agora o céu comunicar a mensagem,
Aquela famosa melodia aguardada por uma vida,
A elevar os pés do chão apequenador
Para o alcance dos cimos da redenção!

Repousa o pequenino sobre um oceano de dor,
Repasta o descendente um banquete de rancor,
Com lágrimas, as amargamente justificáveis
Pelas páginas dos relatos incompletos.

As ruas, malditas, jamais se comovem,
E ainda assim se movem na sola dos pés
Dos passantes, cabisbaixos, porque baixos
Nestas plagas e confins de mundos...

Fez a prece de joelhos,
Agradeceu a revolta:
Agora é tempo de revelações
Resplandecentes à tua volta!

Tua boca e tuas sedes,
Teu tormento e tua sorte
Refilmados por minha lente
Nesta tarde de verdades!

E um dia se dirá:
“Foi-se um ingrato, ilegítimo irmão”
E os seres alados rejubilarão
Com o retorno de seu lume.

O perfume da perfeição –
Sente-o nas viradas da canção.
Chora os dias e as vidas idas.
Comemora o rumo desta partida.








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